Federação Europeia de Sexologia estuda disfunções sexuais entre universitários


Federação Europeia de Sexologia estuda disfunções sexuais entre universitários

À conversa com…
Fillipo Nimbi

Data
Agosto 2016

Entrevista
Isabel Freire

A Federação Europeia de Sexologia (FES) desenvolve um projeto de investigação em torno das disfunções sexuais no contexto universitário – cerca de 750 estudantes entre os 18 e os 25 anos, residentes na Itália, Turquia, Malta e Roménia, embora se pretenda alargar o estudo a outros países europeus. Filippo Nimbi, presidente do Comité para a Juventude da FES (entidade que coordena a pesquisa), explica que se pretende investigar o papel de variáveis como a Angústia, a Qualidade de Vida e a Alexitimia (incapacidade em identificar e descrever emoções em si próprio) na ocorrência de disfunções sexuais entre jovens.

Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica – Que organização financia o projeto Estudantes universitários e disfunções sexuais: um inquérito europeu transcultural e quanto vai custar?

Filippo Nimbi – Este ambicioso projeto é autofinanciado pela própria Federação Europeia de Sexologia, graças aos esforços de todos os delegados do Comité para a Juventude. Hoje em dia não é fácil encontrar fundos para a investigação, especialmente em áreas como a sexologia e a psicologia.

SPSC – O projeto arrancou em 2015. Quando se espera que esteja concluído?

FN – Estamos perto de fechar a primeira fase de recolha de dados (em setembro). Depois de analisar os primeiros resultados, gostaríamos de estender a investigação a outros países.

SPSC – Quantas pessoas trabalham no projeto?

FN – De momento temos seis jovens investigadores de 4 países (Itália, Turquia, Malta e Roménia) a trabalhar duro para recolher os dados, mas planeamos aumentar o número de voluntários e de países nas próximas fases do projeto.

SPSC – Há algum país a liderar os trabalhos?

FN – Poderíamos dizer que a Itália tem esse papel, mas é apenas uma meia-verdade. Todos os países são responsáveis por uma parte do projeto.

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SPSC – Dos 4 países, em qual há uma prevalência maior e menor de disfunções sexuais (femininas e masculinas) na população em geral?

FN – Estudos anteriores apontam para taxas de disfunção sexual muito diferentes nos 4 países em análise. Estes valores foram apurados com critérios e ferramentas distintas, não se podem comparar. É espectável que venhamos a observar percentagens diferentes de disfunção sexual entre os jovens e as jovens, pois o comportamento sexual é fortemente dependente da cultura.

SPSC – Quais são as principais assunções/hipóteses do estudo, relativamente ao papel das 3 variáveis (Angústia, Qualidade de Vida e Alexitimia)?

FN – Considerando o que nos diz a literatura científica, esperamos encontrar níveis elevados de Qualidade de Vida em pessoas com valores baixos de Angústia e Alexitimia, independentemente de terem ou não uma disfunção sexual. Considerando o DSM-5, a Angústia (Distress) é que fez a disfunção, e não o sintoma ele próprio. Além disso, esperamos níveis elevados de Alexitimia influenciando negativamente a resposta sexual masculina.

SPSC – Fatores culturais, sociais e económicos influenciam fortemente a sexualidade. Itália, Turquia, Malta e Roménia são países com panoramas sociais, culturais e económicos muito distintos. A pesquisa tem alguma dimensão qualitativa que facilite a perceção ou interpretação destas diferenças estruturais?

FN – Há itens qualitativos no protocolo, mas nós focamo-nos em aspetos quantitativos, para podermos ter um primeiro estudo comparativo. Esse aspeto pode vir a ser um elemento importante na segunda fase da pesquisa.

SPSC – Existem bons exemplos de serviços de apoio social ou psicológico nas universidades destes quatro países, com trabalho exemplar na ajuda dos estudantes em matérias relacionadas com a sua saúde e direitos sexuais?

FN – Há alguns serviços recentemente criados nestas universidades, mas certamente este é um campo que precisa ser melhorado. Muitos destes serviços que se focam em aconselhamento para a saúde e para o apoio psicológico, não estão suficientemente divulgados e são procurados por uma pequena minoria de estudantes afortunados.

SPSC – Em que medida pode o vosso estudo ser útil para o futuro dos estudantes universitários na Europa?

FN – O nosso grande objetivo é definir as bases científicas para um programa europeu de prevenção e de prestação de cuidados de saúde sexual. Sabemos que é uma tarefa ambiciosa, mas somos jovens, e claro, gostamos de sonhar em grande estilo.