Dar “lugar às sexologias” num congresso europeu em Portugal


Dar “lugar às sexologias” num congresso europeu em Portugal

À conversa com…
Sandra Vilarinho, Presidente do 14º Congresso da Federação Europeia de Sexologia e Presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica

 

Percursos…
Presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica e Membro da Comissão Executiva e coordenadora do Comité da Educação Sexual da Federação Europeia de Sexologia. Psicóloga clínica, terapeuta sexual e instrutora de mindfulness. Doutorada em Psicologia Clínica (FPCE, Universidade de Coimbra) e Investigadora do Sexlab da FPCE (Universidade do Porto).

 

Data
12 de janeiro de 2018

 

Entrevista

Isabel Freire

O 14º Congresso da Federação Europeia de Sexologia (agendado para 9 a 12 de Maio, em Albufeira) orienta-se pela valorização da multiplicidade de problemáticas e perspetivas, bem como pela facilitação da proximidade e diálogo entre especialistas. “A diversidade temática assegura a passagem às sexologias, estando cobertos temas da investigação à prática clínica, da saúde sexual à educação e aos direitos sexuais, das perspetivas mais clássicas às abordagens mais modernas e inovadoras, de temas mais biológicos e sociais, a temas mais da psique humana”, defende Sandra Vilarinho, presidente deste evento científico internacional, e da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Simpósios, lectures, grupos de discussão temáticos, workshops e uma modalidade prática (designada por stomp the expert), em que especialistas abordam estratégias para lidar com situações desafiantes da terapia sexual, são algumas das propostas do encontro, que aceita submissão de resumos até 22 de janeiro e oferece inscrições a preços reduzidos até ao final deste mês.

Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica – Qual a principal razão para se fazer o 14º Congresso da Federação Europeia de Sexologia (FES) em Portugal?

Sandra Vilarinho – A sexologia portuguesa ser cada vez mais forte e dinâmica, assim como a crescente representação e reconhecimento internacional d@s investigador@s e clínic@s de Portugal. Naturalmente também ajudaram o clima algarvio convidativo, a excelente gastronomia, a cultura e as gentes simpáticas.

SPSC – O princípio da multidisciplinaridade estava na fundação da ciência sexual há mais de um século. O Congresso propõe uma reflexão sobre a passagem “da sexologia às sexologias”. Em que sentido?

SV – Pretendemos assegurar o cruzamento de olhares entre culturas e disciplinas. A riqueza e a diversidade da Sexologia encontram-se refletidas por exemplo no elevado número de simpósios que colocam em comunicação vários países (de norte a sul, e de este a oeste), como é o caso do que é dedicado à educação em Sexologia Clínica na Europa (onde Portugal terá algo a dizer). Mas também o simpósio sobre a sexualidade na terceira idade na Europa (igualmente com participação portuguesa) ou o simpósio em que será discutida a saúde e cidadania na população transexual. A diversidade temática assegura a passagem às sexologias, estando cobertos temas da investigação à prática clínica, da saúde sexual à educação e aos direitos sexuais, das perspetivas mais clássicas às abordagens mais modernas e inovadoras, de temas mais biológicos e sociais, a temas mais da psique humana.

Este congresso está desenhado para psicólog@s, psiquiatras, urologistas, ginecologistas, clínic@s gerais, endocrinologistas, enfermeir@s, educador@s, professor@s, assistentes sociais, investigador@s das ciências sociais e humanas, ou outros profissionais para quem as sexualidades sejam relevantes

SPSC – Que novidades traz o Congresso do ponto de vista da informação, discussão e interação entre os congressistas?

SV – O programa foi desenhado de modo a ser o mais estimulante e interativo possível. Além dos habituais simpósios e “Lectures”, teremos novidades que permitem o contacto ainda mais estreito e proveitoso entre sexólog@s portugues@s e os seus pares europeus. Salientaria os grupos de discussão temáticosSIG’s (Special Interest Groups) – que contarão com um@ dinamizador@ (especialista no tema proposto) a promover o debate em torno de um tema (por exemplo, sexualidade e deficiências mentais, depressão, ansiedade, obesidade, trauma sexual, até temas como as políticas relativas à intimidade e romance em lares residenciais ou a integração LGBT nos cuidados médicos). Os SIG’s são grupos relativamente pequenos (máximo de 15 participantes). Vão permitir um ambiente informal, facilitador do diálogo e da colocação de questões. O programa contará ainda com 8 workshops. Os temas vão da investigação à clínica. Estes workshops serão integrados ao longo dos três dias do encontro (não apenas no início), na habitual modalidade pré-congresso, aumentando o leque de escolhas d@s participantes. Outra novidade será o “Stomp the Expert”, modalidade muito prática e centrada em torno de casos clínicos, em que um conjunto de especialistas abordam estratégias para lidar com situações desafiantes da terapia sexual.

SPSC – Há problemas que sejam particularmente desafiantes para a sexologia clínica neste momento, no mundo, e a que o Congresso tenha dedicado particular cuidado?

SV – Há um especial destaque para a saúde sexual d@s jovens (nomeadamente no que respeita à comunicação pais-filhos), à prática de sexo associada ao consumo de substâncias (e.g., Chemsex), aos riscos e prevenção (e.g., PrEP = pre-exposure prophylaxis), assim como para o conceito de Sober Sex que para muitos jovens (e não só), é uma realidade pouco frequente. Os temas mais ligados à sexualidade na doença terão igualmente especial atenção (da doença física à mental, até ao conceito de physical rehabilitation sexology para pessoas com esclerose múltipla, AVC ou lesões na medula espinal). De sublinhar também o destaque dado às não/monogamias num debate que será dinamizado por especialistas portugues@s. Igualmente sob a responsabilidade da equipa portuguesa estará o simpósio multidisciplinar dedicado às novidades e panorama atual no tratamento das disfunções sexuais, onde teremos múltiplas visões (da Andrologia e Psiquiatria, às abordagens clínicas mais clássicas).

De sublinhar também o destaque dado às não/monogamias num debate que será dinamizado por especialistas portugues@s. Igualmente sob a responsabilidade da equipa portuguesa estará o simpósio multidisciplinar dedicado às novidades e panorama atual no tratamento das disfunções sexuais, onde teremos múltiplas visões (da Andrologia e Psiquiatria, às abordagens clínicas mais clássicas)

SPSC – Que mensagem deixaria desde já aos participantes?

SV – Venham partilhar o vosso trabalho, as vossas ideias ou a vossa curiosidade. Não percam esta oportunidade de um contacto ainda mais estreito e profícuo com alguns dos especialistas europeus da Sexologia, num ambiente rico, diverso e acolhedor. Este congresso está desenhado para vós, psicólog@s, psiquiatras, urologistas, ginecologistas, clínic@s gerais, endocrinologistas, enfermeir@s, educador@s, professor@s, assistentes sociais, investigador@s das ciências sociais e humanas, ou outros profissionais para quem as sexualidades sejam relevantes. Venham fazer uma apresentação, ouvir, promover, discutir e desfrutar. Venham celebrar as Sexologias ao longo destes três dias estimulantes e irrepetíveis!

SPSC – O que pensa que este encontro pode trazer para as sexologias em Portugal?

SV – A possibilidade de um diálogo mais próximo com colegas de vários cantos da Europa, a troca de experiências e o estabelecimento de pontes com equipas transculturais, a atualização em matérias que não se encontram ainda tão abordadas ou desenvolvidas e que merecem reflexão conjunta, numa lógica facilitadora da ampliação e multiplicação de perspetivas, permitindo realmente lugar às “sexologias”.