O bem-estar é também sexual


O bem-estar é também sexual

Patrícia M. Pascoal, Presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica e Vice-Chair do Comité do Dia Mundial da Saúde Sexual da WAS

A celebração da saúde sexual, através da criação do seu Dia Mundial (assinalado a 4 de setembro), é uma iniciativa da WAS, a que a Organização Mundial de Saúde se juntou há 8 anos, e que é evocado hoje em mais de 50 países no mundo. Portugal é um deles.

A Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica associa-se a este movimento que é de todxs e que pode fazer a diferença. É a oportunidade para reconhecer e aplaudir as conquistas ao nível da saúde sexual obtidas no panorama nacional, para as quais a SPSC (e tantas outras pessoas, movimentos e instituições) tem contribuído (e.g., criação de consultas de sexologia e formação de terapeutas sexuais).

Em Portugal os indicadores de saúde sexual são globalmente positivos, mas há ainda um conjunto de conquistas a promover e a consolidar, bem como de outras a implementar. As consultas especializadas de sexologia clínica são uma realidade, porém, centralizam-se essencialmente nos grandes centros urbanos. Precisamos alargar a cobertura nacional. Fazer chegar esta assistência às populações do interior e ilhas (arquipélagos dos Açores e Madeira).

A formação em saúde sexual ou sexologia é ainda insuficiente no nosso país. Uma vez que o estudo da sexualidade se caracteriza pela transversalidade, os temas da sexologia são abordados – pontualmente – em diferentes unidades curriculares de instituições de ensino superior que formam profissionais de saúde (e outros profissionais). Contudo são muito raros os cursos em que existe formação específica nesta área, e quando existe assume maioritariamente a forma de disciplina ou unidade curricular optativa.

Nas esferas mediáticas e públicas precisamos refletir de forma aberta, e sem preconceitos, acerca da melhoria da saúde sexual e reprodutiva, em geral, e de certos grupos sociais minoritários, em particular (pessoas com problemas neuromusculares, pessoas com problemas neurodesenvolvimentais, doentes crónicxs, entre outros). A informação e a comunicação em torno das questões da saúde sexual requer especialização e atualização. As mensagens vinculadas nos media podem e devem ajudar a inverter o desconhecimento e a perpetuação de conceitos equívocos acerca da saúde sexual.

Em Portugal, continua a ser essencial a luta para que os direitos sexuais, que são direitos humanos, sejam respeitados e defendidos. Sem direitos sexuais não pode haver saúde sexual. Infelizmente, quando olhamos para o mapa mundial do acesso à saúde sexual e reprodutiva e aos direitos sexuais, saltam ainda à vista as disparidades, as privações, os abusos e as violências. A celebração do Dia Mundial da Saúde Sexual permite dar visibilidade ao que está por fazer. E ao que está feito. Os nossos sucessos devem ser celebrados e a sua visibilidade é fundamental para o seu reconhecimento, mas também para a sua manutenção.

Professora Doutora Patrícia Pascoal, Presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica e Vice-Chair do Comité do Dia Mundial da Saúde Sexual da WAS