Orientações para a prática clínica com pessoas que têm interesses kink
Tradução para português por Carmo G. Pereira com Alexandra Oliveira e Joana Almeida/Comissão ‘Direitos Sexuais e Estigma’ da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica.
Kink Clinical Practice Guidelines Project (2023). Orientações para a prática clínica com pessoas que têm interesses kink (C. G. Pereira/SPSC, Trad.) https://spsc.pt/index.php/biblioteca-de-boas-praticas/ (Trabalho original publicado em 2019.
Disponível em:
https://www.kinkguidelines.com)
Orientação 1: Profissionais da área clínica compreendem que o termo kink é utilizado como uma designação abrangente para uma vasta gama de comportamentos, fantasias, relacionamentos e identidades eróticas ou íntimas consensuais.
Orientação 2: Profissionais da área clínica terão consciência da sua competência profissional e do âmbito da sua prática quando trabalham com clientes/utentes que estão a explorar o kink ou que se identificam com o kink, e recorrerão a consultoria, supervisão e/ou encaminharão, conforme apropriado, para melhor apoiar as pessoas que atendem.
Orientação 3: Profissionais da área clínica reconhecem que as fantasias, interesses, comportamentos, relações e/ou identidades kink, por si só, não denotam a presença de psicopatologia, perturbação mental ou incapacidade em controlar o comportamento.
Orientação 4: Profissionais da área clínica reconhecem que o kink não é necessariamente uma resposta ao trauma, incluindo ao abuso.
Orientação 5: Profissionais da área clínica reconhecem que o kink se intersecta com outras identidades, o que pode moldar a forma como o kink é expresso e vivenciado.
Orientação 6: Profissionais da área clínica reconhecem que o kink pode, por vezes, facilitar a exploração e a expressão de uma variedade de interesses e de identidades de género, relacionais e sexuais.
Orientação 7: Profissionais da área clínica reconhecem que o estigma, a discriminação e a violência dirigidos às pessoas envolvidas em atividades kink podem afetar a sua saúde e bem-estar.
Orientação 8: Profissionais da área clínica compreendem a importância do consentimento e a forma como este é gerido nas interações kink e nas relações de troca de poder.
Orientação 9: Profissionais da área clínica reconhecem que as experiências de kink podem levar à recuperação, ao crescimento pessoal e ao empoderamento.
Orientação 10: Profissionais da área clínica devem ter em conta que as diferenças geracionais podem influenciar os comportamentos e as identidades das pessoas praticantes ou com interesses kink.
Orientação 11: Profissionais da área clínica compreendem que os interesses kink se podem manifestar em qualquer idade.
Orientação 12: Profissionais da área clínica reconhecem que existe uma grande variedade de estruturas familiares entre as pessoas que se identificam como kinky.
Orientação 13: Profissionais da área clínica não devem partir do princípio de que um envolvimento com o kink tem efeitos negativos ao nível da parentalidade.
Orientação 15: Profissionais da área clínica reconhecem que terapias corretivas ou de conversão não são éticas. Da mesma forma, não devem fazer tentativas de erradicar os comportamentos e identidades associadas ao kink consensual.
Orientação 16: Profissionais da área clínica compreendem que o sofrimento relacionado com o kink, mais do que ser evidência de uma perturbação, pode ser resultado do estigma internalizado, da opressão e da negatividade.
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