Génese da SPSC

Existe um intervalo de oito décadas entre a criação da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (em 1985) e a publicação das obras de Egas Moniz, neurologista frequentemente considerado o precursor da sexologia no nosso país. Galardoado com um prémio Nobel da Medicina pela Academia sueca em 1949, o médico português dedica-se ao estudo da sexualidade na viragem do século XIX para o século XX. A sua tese de doutoramento – A vida sexual I, fisiologia – é defendida em 1901. A posteriori, o neurologista complementa estes estudos com uma nova abordagem (A vida sexual II, patologia). Fisiologia e patologia são reunidas e publicadas no livro A vida sexual – Fisiologia e patologia, que atingiu a 19ª edição entre 1913 e 1933, data em que o Estado Novo restringe a sua venda às farmácias e obriga quem a quisesse consultar em bibliotecas públicas, a apresentar uma justificação (ver tese de doutoramento de Manuel Correia).

Os estudos de Egas Moniz pela sexualidade refletem uma tendência de mudança que se começa a afirmar a partir da segunda metade do século XIX, em vários países. São os primeiros passos de um novo campo do saber, designado por ciência sexual ou sexologia, com contributos de profissionais de medicina, mas não só.

O interesse científico pela sexualidade encontrou condições desfavoráveis ao seu desenvolvimento no Portugal do Estado Novo. Ao longo de quatro décadas, a censura promove um discurso silenciador e repressivo das vivências sexuais (e do desenvolvimento da sexologia) no nosso país. Na transição da ditadura para a democracia começam a diversificar-se as visões e expressões em redor dos afetos e sexualidades (políticas, legais, científicas, artísticas, culturais e sociais). Após a revolução de abril de 1974, concretamente a partir de 1975, surgem as primeiríssimas consultas públicas da especialidade nos hospitais públicos portugueses. Francisco Allen Gomes, Júlio Silveira Nunes, Afonso de Albuquerque e António Pacheco Palha são os médicos psiquiatras que desenvolvem este trabalho pioneiro em cidades como Lisboa, Porto e Coimbra. Os quatro psiquiatras trazem para o nosso país técnicas terapêuticas da sexualidade, nomeadamente as que são desenvolvidas nos anos 1960 e 1970, por William Masters e Virginia Johnson, nos EUA.

Francisco Allen Gomes cria em 1975, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, a consulta de ginecologia psicossomática e sexologia. Júlio Silveira Nunes desenvolve uma consulta de sexologia no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, no mesmo ano. António Pacheco Palha dá início à consulta psicossomática e aconselhamento sexual, no serviço de psiquiatria do Hospital de São João, no Porto, também em 1975. E Afonso de Albuquerque inicia no Hospital Júlio de Matos, ainda em 1971, um trabalho sobre a homossexualidade. Motivos diversos levam à sua interrupção. Será em 1977 que é criada neste hospital uma unidade em que se incluí uma consulta de terapia sexual.

Em meados dos anos 1980, é ainda muito significativa a “dispersão” e “falta de comunicação” entre os profissionais dos diversos campos da sexologia, em Portugal. Com vista a promover a coesão e o diálogo, organiza-se em Lisboa, em 1984, o I Congresso Nacional de Sexologia. Médicos e psicoterapeutas, mas também juristas, antropólogos, escritores, artistas, entre outros, fazem parte do encontro, sensível à importância de outros discursos na reflexão sobre a sexualidade.

É na sequência deste I Congresso que se funda a Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Constituída em Diário da República a 23 de setembro 1985 (III Série, Nº 219), define como objetivo “promover a divulgação de conhecimentos científicos no campo da sexologia e o agrupamento dos técnicos que se ocupem dos problemas da sexologia clínica”.

Entre os sócios fundadores estavam médicos, psicólogos e outros técnicos ligados aos problemas da sexologia clínica. Francisco Allen Gomes, Júlio Silveira Nunes, Afonso de Albuquerque e António Pacheco Palha são os fundadores com um papel proeminente na formação da SOCIEDADE – os primeiros corpos gerentes foram eleitos em Outubro de 1985.

Em 1987, a SPSC publica a obra A Sexologia em Portugal (o volume 1 intitula-se A Sexologia Clínica e o volume 2 Sexualidade e Cultura). Os livros, coordenados por Francisco Allen Gomes, Júlio Silveira Nunes e Afonso de Albuquerque, foram apresentados por altura do II Congresso Nacional de Sexologia, em Coimbra.

No ano de 2003 a SOCIEDADE lança uma segunda obra – A Sexologia – Perspectiva Multidisciplinar – também ela com dois volumes, coordenados por Lígia Fonseca e Catarina Soares.

Entre 1994 e 2010, a SPSC publicou igualmente onze números da Acta Portuguesa de Sexologia (APS), revista destinada à divulgação de investigações portuguesas em torno da sexualidade. António Pacheco Palla, Francisco Allen Gomes e Maria Fernanda Mendes estiveram na direção da revista. José Pacheco foi seu editor.

Ao longo dos últimos 39 anos, a SPSC realizou 5 cursos de formação para terapeuta sexual, (co)organizou dezenas de encontros científicos (nacionais e internacionais). Atualmente, reúne e apoia em torno do mesmo interesse mais de 600 sócios.

Na direção da SPSC estiveram ao longo das três décadas de existência, os seguintes especialistas:

  • Joana Carvalho
    (2024)

  • Joana Carvalho
    (2022)

  • Patrícia Pascoal
    (2018)

  • Sandra Vilarinho
    (2015)

  • Gabriela Moita
    (2013)

  • Ana Alexandra Carvalheira
    (2011)

  • Pedro Nobre
    (2008)

  • Manuel Esteves
    (2007)

  • António Santinho Martins
    (2004)

  • Ligia Fonseca
    (2001)

  • Mário Lourenço
    (1999)

  • José Pacheco
    (1996)

  • Fernanda Mendes
    (1994)

  • Pacheco Palha
    (1991)

  • Afonso de Albuquerque
    (1988)

  • Francisco Allen Gomes
    (1985)