Caixa de sugestões #2 – Dois livros sobre prazeres e desprazeres


Caixa de sugestões #2 – Dois livros sobre prazeres e desprazeres

Os Cadernos de Dom Rigoberto, de Mario Vargas Llosa

Em Defesa do Erotismo, de Ana Carvalheira

A sugestão de…

Francisco Allen Gomes, médico psiquiatra, sexólogo, co-fundador e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica

Prazeres e Desprazeres

A ausência de latência entre o desejo e a sua consumação, o culto obsessivo pelo corpo, uma gestão de vida por objetivos e por imperativos de consumo, tornam o encontro sexual de dois amantes nus e sós no seu quarto de cama, uma coisa que, rapidamente, se esgota e torna aborrecida. Os feitiços, como elementos decorativos de corpos macerados e siliconizados e a experimentação conjunta e festiva de novos “prazeres”, são os artefatos que, mal ou bem, vão permitindo pequenas reanimações dum desejo moribundo ou a sobrevivência duma luxúria esvaziada de conteúdo. Por outro lado, um sexo furiosamente “teclado” e profundamente embrenhado nas múltiplas redes sociais e que talvez afaste o que parece aproximar. O prazer fica dependente da imagem e dos likes e estimula mais o narcisismo do que as relações profundas.

São tempos piores? São tempos melhores? Apenas tempos diferentes?

Continuo a acreditar que cada geração tem os seus desafios. Nas gerações mais antigas o erotismo alimentava-se da interdição. Nas gerações atuais, os tabus desmoronaram-se, os corpos desnudaram-se e uma diversidade de novas identidades sexuais veio enriquecer e confundir o cenário sexual. Mas sempre afirmei que a manutenção do amor passa pelo erotismo. Perante estas questões estimulantes, sugiro duas leituras que defendem o erotismo em tempos diferentes e com diferentes estratégias:

 

  • Os Cadernos de Dom Rigoberto de Mario Vargas Lhosa (1997) em que o erotismo é um processo criativo, que se alimenta na rebelião contra os formosos tabus que envolviam o sexo, e que enobrece e confere categoria estética ao ato de amor;

 

  • Em defesa do erotismo de Ana Alexandra Carvalheira (2017) que questiona o papel do erotismo quando desapareceram os tabus. Mas o erotismo sobrevive e o livro é uma argumentação em sua defesa, enquanto elemento imprescindível na manutenção do desejo e prazer sexual.